O peso de um nome icônico

Quando a série Wandinha estreou na Netflix, muita gente se perguntou: por que Wednesday Addams, no original, foi traduzida como “Wandinha” no Brasil? A escolha, que já vinha desde as versões dubladas da franquia A Família Addams, carrega um significado cultural curioso e um processo de adaptação que vai além da literalidade.

Ao investigar a origem do nome, descobrimos uma história de tradução, poesia e até mesmo de sonoridade que ajuda a explicar como a personagem foi recebida por diferentes públicos ao longo das décadas.

A origem em inglês: Wednesday Addams

Nos Estados Unidos, a personagem criada por Charles Addams nos quadrinhos e imortalizada em filmes e séries se chama Wednesday Addams. “Wednesday”, em inglês, significa literalmente quarta-feira.

A escolha do nome não foi aleatória. Ele faz referência a um poema infantil inglês, muito popular na Era Vitoriana, chamado Monday’s Child, que associa características às crianças nascidas em cada dia da semana. No verso referente à quarta-feira, lê-se:

“Wednesday’s child is full of woe.”
(A criança de quarta-feira é cheia de tristeza.)

Ou seja, Wednesday foi pensada desde sua concepção como uma criança melancólica, de semblante sombrio e humor mórbido. Essa referência literária é a raiz poética que explica sua personalidade.

O desafio da tradução

Quando a franquia chegou ao Brasil, tradutores e dubladores enfrentaram um dilema: manter “Quarta-Feira Addams” soaria estranho e até cômico em português, perdendo o tom poético e sombrio.

Era necessário encontrar uma solução que:

  1. Soasse natural para o público brasileiro.
  2. Mantivesse a ideia de um nome incomum e misterioso.
  3. Preservasse a musicalidade necessária para uma personagem de impacto cultural.

Foi aí que nasceu o nome “Wandinha”, uma adaptação criativa que não é literal, mas funciona perfeitamente dentro da cultura brasileira.

Por que “Wandinha”?

A escolha por “Wandinha” pode ser explicada em alguns pontos:

  1. Musicalidade e suavidade: O sufixo “-inha” torna o nome mais próximo e familiar ao público brasileiro, além de dar um contraste curioso com a personalidade dura da personagem.
  2. Associação ao gótico e místico: “Wanda” já era um nome presente no imaginário brasileiro, muitas vezes associado a personagens fortes, misteriosas e até bruxescas. A forma diminutiva “Wandinha” suaviza, mas mantém esse ar enigmático.
  3. Fácil identificação: Diferente de “Quarta-Feira”, que soaria cômico, “Wandinha” tem ares de nome real, algo que os brasileiros conseguem aceitar de imediato como pertencente a uma personagem.
  4. Tradição consolidada: A tradução foi utilizada nas primeiras dublagens da família Addams nos anos 60 e 70 e acabou se cristalizando culturalmente. Quando a Netflix lançou sua série solo, manteve a tradição já familiar ao público brasileiro.

A poética perdida e recriada

É fato que a adaptação brasileira perde a referência direta ao poema Monday’s Child. Afinal, em português, o nome “Wandinha” não carrega a ideia de “cheia de tristeza” associada à quarta-feira.

Por outro lado, ganha-se em termos de identificação cultural. A suavidade do diminutivo contrasta com o sarcasmo e a frieza da personagem, criando uma ironia que funciona muito bem em português.

Além disso, esse tipo de adaptação criativa é comum no audiovisual. O objetivo não é sempre preservar a literalidade, mas sim manter o impacto e a função do nome dentro da cultura de chegada.

A recepção dos fãs

Curiosamente, a escolha divide opiniões entre os fãs. Alguns defendem que o nome deveria ter sido mantido como “Wednesday” ou traduzido literalmente para “Quarta-Feira”. Outros, no entanto, reconhecem que “Wandinha” já faz parte da tradição brasileira da franquia e que soa mais natural para o nosso idioma.

Na prática, a adaptação deu certo: hoje, “Wandinha” é um nome imediatamente reconhecível no Brasil, ligado tanto à nostalgia da Família Addams quanto ao fenômeno global da Netflix.

Minha visão opinativa

Pessoalmente, vejo a escolha de “Wandinha” como uma das adaptações mais felizes da dublagem brasileira. Embora se perca a conexão direta com o poema inglês, a tradução ganha em charme local, criando uma personagem que soa autêntica dentro da nossa cultura.

Mais importante: o nome ajudou a consolidar a personagem no imaginário coletivo. Pergunte a qualquer brasileiro quem é “Wandinha” e a resposta será imediata, sem confusão. Isso mostra que a adaptação cumpriu sua função cultural com perfeição.

O nome Wandinha é um exemplo de como a tradução audiovisual vai além da literalidade. Ele demonstra como é possível adaptar referências culturais de forma criativa, garantindo que uma personagem não apenas seja compreendida, mas também querida pelo público de outro país.

Se “Wednesday” é, em inglês, a criança “cheia de tristeza”, no Brasil “Wandinha” se tornou a menina sombria que todos amam acompanhar — e isso, por si só, já é um triunfo da tradução cultural.


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